Guilherme Baffi |
|
Casal Andreza Tassi Peixoto, 28 anos, e Álvaro Peixoto Júnior, 31 anos, se diverte em casa com Pedrinho; cena é comum |
Para melhorar a qualidade de vida de Pedro Tassi Peixoto, 2 anos, de Votuporanga, a família está disposta a viajar para a China, distante 25 mil quilômetros, em busca de um tratamento médico com uso de células tronco. O menino nasceu prematuro, com 1.040 gramas, e contraiu graves infecções e meningite viral durante os 80 dias de internação. A combinação ocasionou paralisia cerebral, que gerou sequelas motoras. A esperança é que o procedimento ajude a criança a desenvolver a fala e locomoção, a comer normalmente (não só alimentos pastosos) e a firmar o pescoço. Movidos por esses propósitos, os pais iniciaram a campanha Pedrinho Rumo à China para arrecadar R$ 150 mil.
O dinheiro é necessário para pagar 45 dias de tratamento, hospedagem e alimentação em um hospital em Guangzhou, a 120km de Hong Kong. Já foram conquistados R$ 30 mil. O casal Andreza Tassi Peixoto, 28 anos, e Álvaro Peixoto Júnior, 31, tem ciência de que o procedimento com células tronco oferecido na China não é reconhecido pela comunidade científica internacional. “Não há garantias. Mas qualquer melhora fará diferença na vida dele”, diz a mulher. A ideia é buscar complemento ao tratamento tradicional no qual Pedrinho é submetido. Faz fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia.
Álvaro não pensa duas vezes ao afirmar que vale a pena o esforço. “Pedrinho é inteligente. A parte motora é que foi mais afetada.” O menino entende o que os pais falam. Com esforço, tenta levantar o pescoço e virar o corpo sempre que solicitado. Interage com sorrisos e gargalhadas, que ecoam na casa simples dos Peixoto. A gravidez, após um ano de tentativas, transcorreu normalmente até que, na 27ª semana de gestação, Andreza sentiu fortes dores e o parto foi realizado.
O bebê nasceu bem, foi internado e enfrentou toda sorte de problema. “A gente nem sabia o que era paralisia cerebral”, afirma a mãe. Após a longa internação, a família iniciou epopeia em busca de respostas. Andreza conseguiu uma consulta para Pedrinho no hospital Sarah Kubitschek, de Belo Horizonte (MG). “Uma médica falou que não havia cura. Foi a primeira vez que ouvi isso. Chorei bastante.” O casal começou a pesquisar e conversar com famílias de crianças que passaram pelo tratamento chinês, e se animou.
Representante
Entraram em contato com Carlos Pereira, de Recife (PE), que passou a representar a Beike Biotechnology no Brasil após a filha, Clara, ser submetida ao tratamento, em 2009. Foi a primeira brasileira, de 30 até agora, a se tratar na China. A menina tem o mesmo problema que Pedrinho. “Hoje, come todo tipo de alimentos, firmou o pescoço e frequenta a escola.” Pereira afirma que 20 famílias brasileiras estão em campanha para fazer o tratamento chinês, oferecido desde os anos 80.
A família Peixoto mandou o prontuário e cópias de exames de Pedrinho para o hospital asiático. O corpo clínico enxergou a possibilidade de bons resultados, e aceitou o caso. A viagem está programada para 30 de abril. Álvaro cogitou vender a casa, mas desistiu. A melhor proposta, de R$ 90 mil, foi insuficiente para cobrir a viagem. A família pediu ajuda a entidades, associações e pessoas influentes, e iniciou a campanha.
Na primeira ação, mil pizzas foram vendidas, o que gerou R$ 10 mil. Fizeram almoços e distribuíram cofrinhos no comércio. Seis concessionárias de Votuporanga doaram um veículo zero quilômetro, que será sorteado em 14 de abril pela loteria federal. Foram impressos dez mil bilhetes, cada um a R$ 10. A venda total proporciona a viagem. Enquanto isso, Pedrinho não deixa de lado o tratamento convencional. Foi avaliado na rede de reabilitação Lucy Montoro, de Rio Preto, onde será atendido duas vezes por semana. Vai na AACD na próxima terça. “Vale a pena investir nesse menino”, afirma o pai.
Guilherme Baffi |
|
Pediatra Regina Céli Marcelino, que acompanha Pedrinho desde o começo, não incentivou nem desencorajou a família; no detalhe, Théo, 6 anos, de Ribeirão Preto, que apresentou progressos após atendimento no País asiático |
Tratamento é incógnita
A fisiatra e diretora da rede de reabilitação Lucy Montoro de Rio Preto, Regina Chueire, afirma que não existe evidência científica de que o procedimento com células tronco, oferecido na China, traga resultados positivos. “O melhor tratamento é a reabilitação com equipe multidisciplinar, que não vai trazer falsas esperanças, mas proporcionar qualidade de vida e independência.”
Chueire afirma que ainda estão no começo na Europa e Estados Unidos pesquisas para usar célula tronco no tratamento de paralisia cerebral. “Na China, não há informações de como é o tratamento e o que é usado. A família deve procurar ajuda dentro do que é consagrado na medicina.” A pediatra Regina Céli Marcelino acompanha Pedrinho desde o começo e afirma que não incentivou nem desencorajou a família. “Já faz o tratamento tradicional com vários profissionais. A ida para a China é um complemento. Espero que traga melhoras.”
Os pais de Pedrinho falaram com a dona de casa Arlete Duran, de Ribeirão Preto. Ela é mãe de Théo, 6 anos, que passou por dois tratamentos na China em 2009. Ela fez campanha para angariar verba para as viagens e afirma que o filho apresentou melhora. “Vale a pena tentar. Meu filho passou a se alimentar sozinho, toma água e ficou mais atento. A mãe do Pedrinho está cheia de esperança, e deve receber apoio.”
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário