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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Reportagem jornal Diário online de São José do Rio Preto


Família de Pedrinho faz campanha para tratamento na China

Raul Marques


Guilherme Baffi
Casal Andreza Tassi Peixoto, 28 anos, e Álvaro Peixoto Júnior, 31 anos, se diverte em casa com Pedrinho; cena é comum
Para melhorar a qualidade de vida de Pedro Tassi Peixoto, 2 anos, de Votuporanga, a família está disposta a viajar para a China, distante 25 mil quilômetros, em busca de um tratamento médico com uso de células tronco. O menino nasceu prematuro, com 1.040 gramas, e contraiu graves infecções e meningite viral durante os 80 dias de internação. A combinação ocasionou paralisia cerebral, que gerou sequelas motoras. A esperança é que o procedimento ajude a criança a desenvolver a fala e locomoção, a comer normalmente (não só alimentos pastosos) e a firmar o pescoço. Movidos por esses propósitos, os pais iniciaram a campanha Pedrinho Rumo à China para arrecadar R$ 150 mil.

O dinheiro é necessário para pagar 45 dias de tratamento, hospedagem e alimentação em um hospital em Guangzhou, a 120km de Hong Kong. Já foram conquistados R$ 30 mil. O casal Andreza Tassi Peixoto, 28 anos, e Álvaro Peixoto Júnior, 31, tem ciência de que o procedimento com células tronco oferecido na China não é reconhecido pela comunidade científica internacional. “Não há garantias. Mas qualquer melhora fará diferença na vida dele”, diz a mulher. A ideia é buscar complemento ao tratamento tradicional no qual Pedrinho é submetido. Faz fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia.

Álvaro não pensa duas vezes ao afirmar que vale a pena o esforço. “Pedrinho é inteligente. A parte motora é que foi mais afetada.” O menino entende o que os pais falam. Com esforço, tenta levantar o pescoço e virar o corpo sempre que solicitado. Interage com sorrisos e gargalhadas, que ecoam na casa simples dos Peixoto. A gravidez, após um ano de tentativas, transcorreu normalmente até que, na 27ª semana de gestação, Andreza sentiu fortes dores e o parto foi realizado.

O bebê nasceu bem, foi internado e enfrentou toda sorte de problema. “A gente nem sabia o que era paralisia cerebral”, afirma a mãe. Após a longa internação, a família iniciou epopeia em busca de respostas. Andreza conseguiu uma consulta para Pedrinho no hospital Sarah Kubitschek, de Belo Horizonte (MG). “Uma médica falou que não havia cura. Foi a primeira vez que ouvi isso. Chorei bastante.” O casal começou a pesquisar e conversar com famílias de crianças que passaram pelo tratamento chinês, e se animou.

Representante

Entraram em contato com Carlos Pereira, de Recife (PE), que passou a representar a Beike Biotechnology no Brasil após a filha, Clara, ser submetida ao tratamento, em 2009. Foi a primeira brasileira, de 30 até agora, a se tratar na China. A menina tem o mesmo problema que Pedrinho. “Hoje, come todo tipo de alimentos, firmou o pescoço e frequenta a escola.” Pereira afirma que 20 famílias brasileiras estão em campanha para fazer o tratamento chinês, oferecido desde os anos 80.

A família Peixoto mandou o prontuário e cópias de exames de Pedrinho para o hospital asiático. O corpo clínico enxergou a possibilidade de bons resultados, e aceitou o caso. A viagem está programada para 30 de abril. Álvaro cogitou vender a casa, mas desistiu. A melhor proposta, de R$ 90 mil, foi insuficiente para cobrir a viagem. A família pediu ajuda a entidades, associações e pessoas influentes, e iniciou a campanha.

Na primeira ação, mil pizzas foram vendidas, o que gerou R$ 10 mil. Fizeram almoços e distribuíram cofrinhos no comércio. Seis concessionárias de Votuporanga doaram um veículo zero quilômetro, que será sorteado em 14 de abril pela loteria federal. Foram impressos dez mil bilhetes, cada um a R$ 10. A venda total proporciona a viagem. Enquanto isso, Pedrinho não deixa de lado o tratamento convencional. Foi avaliado na rede de reabilitação Lucy Montoro, de Rio Preto, onde será atendido duas vezes por semana. Vai na AACD na próxima terça. “Vale a pena investir nesse menino”, afirma o pai.


Guilherme Baffi
Pediatra Regina Céli Marcelino, que acompanha Pedrinho desde o começo, não incentivou nem desencorajou a família; no detalhe, Théo, 6 anos, de Ribeirão Preto, que apresentou progressos após atendimento no País asiático
Tratamento é incógnita 

A fisiatra e diretora da rede de reabilitação Lucy Montoro de Rio Preto, Regina Chueire, afirma que não existe evidência científica de que o procedimento com células tronco, oferecido na China, traga resultados positivos. “O melhor tratamento é a reabilitação com equipe multidisciplinar, que não vai trazer falsas esperanças, mas proporcionar qualidade de vida e independência.”

Chueire afirma que ainda estão no começo na Europa e Estados Unidos pesquisas para usar célula tronco no tratamento de paralisia cerebral. “Na China, não há informações de como é o tratamento e o que é usado. A família deve procurar ajuda dentro do que é consagrado na medicina.” A pediatra Regina Céli Marcelino acompanha Pedrinho desde o começo e afirma que não incentivou nem desencorajou a família. “Já faz o tratamento tradicional com vários profissionais. A ida para a China é um complemento. Espero que traga melhoras.”

Os pais de Pedrinho falaram com a dona de casa Arlete Duran, de Ribeirão Preto. Ela é mãe de Théo, 6 anos, que passou por dois tratamentos na China em 2009. Ela fez campanha para angariar verba para as viagens e afirma que o filho apresentou melhora. “Vale a pena tentar. Meu filho passou a se alimentar sozinho, toma água e ficou mais atento. A mãe do Pedrinho está cheia de esperança, e deve receber apoio.”








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